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quarta-feira, 6 de março de 2013

Em seu 40º aniversário, “The Dark Side of the Moon” ainda ajuda a salvar a molecada de uma vida medíocre

Há exatamente quatro décadas, meu cérebro derreteu e escoou pelas orelhas. E isto não aconteceu apenas comigo, mas com toda a minha geração que gostava de rock. Qualquer rock: pesado, leve, ‘viajandão’, progressivo, folk, country, o que mais você pensar. Aliás, dizer quer este disco ficou restrito apenas ao universo roqueiro seria distorcer completamente a realidade. TODO MUNDO foi afetado, direta ou indiretamente, por The Dark Side of the Moon.
Nesta altura da vida você já sabe que o disco é considerado como o terceiro álbum mais vendido do planeta, que ficou entre os mais vendidos na parada da Billboard por inacreditáveis quinze anos – de 1973, ano de seu lançamento, até 1988 -, que a obra é de certa forma baseada na espiral de loucura do famoso ex-integrante da banda, o guitarrista/vocalista Syd Barrett etc e tal. Nem vou comentar o quanto a capa – concebida por George Hardie e a famosa empresa de design Hipgnosis – se tornou absurdamente icônica dentro da história artística do planeta. Mas estas são informações que você encontra nos “Wikipedias da vida”. The Dark Side... transcende a tudo isto por falar a respeito de algo muito mais pessoal. O disco fala a respeito de cada um de nós... (NR: E eu, ainda por cima, tive o prazer de conhecer o disco antes mesmo de chegar no Brasil, tudo devido a um amigo Marinheiro que trouxe lá de fora, o hoje rockeiro e motociclista José Augusto, mais conhecido simplesmente por Gugu).
Há uma série de fatores entrelaçados e encadeados que fazem com que a identificação com o álbum seja imediata e que seus efeitos sejam multiplicados dentro da cabeça e do coração de cada um de nós. Com um aspecto conceitual relativamente simples – mas distante anos-luz de qualquer abordagem simplória -, o disco fala a respeito de tudo aquilo que leva às pessoas à loucura ou mesmo a alterações de seu estado emocional normal: a constante ausência ou distância de sua zona de conforto, a escassez de tempo para se levar uma vida mentalmente saudável, a obrigação de ganhar mais e mais dinheiro, o espectro da violência e dos inúmeros problemas sociais rondando as nossas vidas, o ‘conforto’ dado pelo apego às religiões. Responda com sinceridade: como ignorar que tudo isto leva à loucura, em diferentes níveis de intensidade?
Foi justamente isto que o Pink Floyd fez. Não apenas recusou-se a ignorar tudo isto, mas tratou de transformar cada um destes temas em canções absurdamente sublimes. Seja pelas letras inspiradíssimas e altamente poéticas do baixista/vocalista Roger Waters, seja pela quantidade imensa de estupendas melodias e harmonias criadas pelo guitarrista/vocalista David Gilmour e pelo tecladista/vocalista Rick Wright, pelos ritmos econômicos e certeiros do baterista Nick Mason e até mesmo pelas participações especiais do saxofonista Dick Parry em “Money” e “Us and Then” e da maravilhosa cantora Claire Torry na emocionante “The Great Gig in the Sky”, o disco soa perfeito.
Para a banda, foi o momento em que seu verdadeiro som foi encontrado. O que vinha até então sendo construído tijolo a tijolo nos discos anteriores – notadamente no irregular Atom Heart Mother (1970) e no excelente Meddle (1971) – finalmente eclodiu no começo de 1973 com The Dark Side of the Moon. E muito disto se deveu ao fato de que a banda passou meses “testando” os esboços das canções no palco, muito antes de adentrar aos estúdios e gravar tudo de modo definitivo – há inúmeros bootlegs gravados na época mostrando estes “rascunhos”. Você consegue imaginar algum artista – qualquer um – fazendo o mesmo nos dias de hoje?
E este processo nem era uma novidade para o quarteto. A faixa-título do álbum Atom Heart Mother passou meses sendo apresentada no palco como “The Amazing Pudding” antes que a banda gravasse o referido disco. O mesmo aconteceu com um tema de quase 25 minutos, ora chamado como “Nothing”, ora como “Son of Nothing” e até mesmo como “The Return of the Son of Nothing”, que acabou se transformando meses mais tarde na lendária “Echoes”, incluída em Meddle.
Mas o resultado final de The Dark Side... mostrou que o Pink Floyd conseguiu tornar seu som mais “acessível” sem soar mais “comercial” e “pop”. Muito pelo contrário, canções como “Money” e seu compasso 7/4 estava longe daquilo que poderia tocar na rádio. Só que tocou. E muito. Tanto que o disco alterou para sempre o conceito de que música na rádio deveria ser endereçada às “massas” e não ter mais que três minutos de duração. Dali em diante, ninguém – ouvintes, emissoras, gravadoras – foi o mesmo.
São tantas as histórias e detalhes a respeito deste álbum que existem até livros abordando única e exclusivamente as circunstâncias que levaram The Dark Side... a ser considerado por muita gente como “o melhor disco de todos os tempos”.
Não importam quais das inúmeras edições comemorativas deste álbum você tenha em casa. Quer que seus filhos sejam seres humanos diferenciados em relação a essa ‘patuléia’ ignorante que grita histericamente por farsantes musicais como Gusttavo Lima, Lady Gaga e toda esta turma do ‘funk’? Reúna a garotada em volta do equipamento de som, ponha The Dark Side... para tocar do começo ao fim e explique as letras e o contexto do álbum, como se estivesse contando uma história. Pode apostar que seus filhos vão sair diferentes - e melhores - desta experiência...                                                                                          Por 
Veja o vídeo do disco no link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=328WhjAXpcs&feature=player_embedded

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